Na madrugada desta sexta-feira (25), o ex-presidente da República Fernando Collor de Mello foi preso em Maceió (ALpor ordem do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). A detenção ocorre 33 anos após ele ser removido da Presidência em um processo de impeachment que marcou a história política do Brasil como símbolo do combate à corrupção.
A prisão foi determinada após Moraes rejeitar o segundo recurso da defesa e determinar o cumprimento imediato da pena de oito anos e dez meses de prisão, em regime fechado, por participação em um esquema de corrupção envolvendo a BR Distribuidora. Segundo o STF, a execução da pena pode ser imediata quando os recursos apresentados têm caráter meramente protelatório.
Além de Collor, também tiveram a pena executada Pedro Paulo Bergamaschi de Leoni Ramos — condenado a quatro anos e um mês em regime semiaberto — e Luís Pereira Duarte Amorim, que cumprirá penas restritivas de direitos.
O colapso do governo Collor
Fernando Collor assumiu a Presidência da República em março de 1990, após vencer as primeiras eleições diretas pós-ditadura, em 1989, derrotando Luiz Inácio Lula da Silva no segundo turno. Ele foi eleito pelo PRN com um discurso moralizador e de combate à corrupção, apoiado por grande parte da população, especialmente diante da crise econômica herdada do governo de José Sarney.
Seu governo, no entanto, entrou rapidamente em declínio. O plano econômico de choque, conhecido como Plano Collor, que congelou preços e bloqueou contas bancárias — inclusive poupanças — causou forte recessão e provocou falências em série. A inflação, que ele prometera combater, voltou a crescer, e a popularidade do presidente despencou.
Escândalos de corrupção e impeachment
Em 1992, denúncias feitas pelo irmão do presidente, Pedro Collor de Mello, revelaram um esquema de corrupção envolvendo o tesoureiro da campanha de Collor, Paulo César Farias, o PC Farias. A revelação, feita em entrevista à revista Veja, apontava para tráfico de influência, lavagem de dinheiro, fraudes em licitações e uso de dinheiro desviado para pagar despesas pessoais do presidente, incluindo reformas na Casa da Dinda, residência oficial de Collor em Brasília.
Pedro Collor também afirmou que o irmão tinha conhecimento e apoiava o esquema. PC Farias não ocupava cargo oficial, mas era uma figura influente no governo. Um dos episódios mais emblemáticos foi o caso do Fiat Elba, veículo usado por Collor e supostamente comprado com recursos desviados — símbolo da mobilização popular pelo impeachment.
As revelações provocaram uma onda de protestos pelo país, com destaque para os Caras Pintadas, jovens estudantes que foram às ruas vestidos de preto e com os rostos pintados, exigindo o afastamento do presidente. Em setembro de 1992, a Câmara dos Deputados aprovou por 441 votos a 38 a abertura do processo de impeachment.
Em 29 de dezembro de 1992, já com o Senado prestes a julgar o caso, Collor tentou renunciar ao cargo, mas a manobra não impediu a votação. Por 76 votos a 2, os senadores decidiram pela sua saída definitiva e o impediram de exercer funções públicas por oito anos. O vice-presidente Itamar Franco assumiu o governo até o fim do mandato, em 1994.
Pós-impeachment: retorno à política e nova condenação
Mesmo com a imagem abalada, Collor conseguiu se reerguer politicamente. Foi eleito senador por Alagoas em 2006 e reeleito em 2014. Em 2022, tentou retornar ao governo de seu estado pelo então PTB (hoje PRD), mas foi derrotado. Na mesma eleição, declarou apoio à reeleição de Jair Bolsonaro.
Apesar de anos de atuação parlamentar, as investigações sobre esquemas de corrupção continuaram. A condenação no caso da BR Distribuidora marca o desfecho de uma trajetória política cercada por escândalos, promessas de moralização não cumpridas e uma história que se encerra — agora, com sua prisão efetivada.
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