Líder religioso de igreja no Bairro Jardim abusava de fiéis em um imóvel acima do templo. Uma das vítimas foi violentada quando tinha 16 anos
Seis mulheres denunciaram o pastor de uma igreja evangélica no Bairro Jardim Vitória, na Região Nordeste de Belo Horizonte, por assédio sexual e estupro. Ao Estado de Minas, uma das vítimas, que não será identificada, contou que as agressões começaram em 2006, quando ela tinha 16 anos. Hoje, com 35, a mulher afirma que ainda sofre perseguições do suspeito, que teria manipulado fiéis contra ela.
De acordo com a Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG), a corporação instaurou inquéritos para apurar as denúncias registradas pelas vítimas. As investigações estão em andamento na Delegacia Especializada de Combate à Violência Sexual, na capital.
Maria, como será identificada, conta que essa foi a primeira igreja que frequentou. Em um dia, o pastor a chamou para ir até um espaço em cima da igreja, onde alguns fiéis moravam. Ela afirma que o homem a mandou sentar no colo dele.
Mesmo constrangida, ela relata que fez o que o líder religioso mandou, uma vez que, desde que passou a frequentar o templo, foi ensinada que o pastor “tinha que ser honrado, respeitado e que era um representante de Deus na terra”. A mulher detalha que o homem, então, colocou a mão em seu peito e, ao ver que ela ficou sem graça, mandou que não contasse para ninguém. Em seguida, ele teria dado três tapas nas nádegas dela.
“Eu nunca tinha tido nenhuma experiência com Deus antes, para mim era tudo muito novo. Quando uma pessoa é recém-convertida e o pastor fala que o vermelho é verde, a gente acredita. Então, eu, como era nova convertida, achei que aquilo ali era normal, porque ele falava que tudo o que ele fazia era baseado no Espírito Santo”, conta.
Desde então, a mulher afirma que passou a ser assediada e importunada sexualmente pelo homem. Ela relata que ele a levava para sua casa e enquanto as filhas e a esposa não estavam no mesmo cômodo, aproveitava para passar a mão em suas partes íntimas. Ele então teria mandado a adolescente ficar sem roupa e se deitado nu em cima dela.
“Eu fiquei bem desconfortável e com medo. Não houve penetração dessa vez, mas, mesmo assim, eu fui violentada. E ele dizia que eu não podia contar nada para ninguém, porque a esposa dele poderia me bater”, relata.
Estupro
A mulher conta que o estupro consumado aconteceu dentro da igreja. Conforme ela, ele novamente a levou para os cômodos acima do templo e questionou se ela era virgem. Ao ser informado que sim, o homem disse que queria comprovar isso. Mesmo diante das negativas da adolescente, o pastor a estuprou e, em seguida, a levou para uma farmácia e a obrigou a tomar remédios.
“Quando ele concluiu, ele disse que eu menti para ele, dizendo que era virgem. Na época, eu ainda fiquei tentando justificar, como se eu estivesse errada. Hoje, eu tenho raiva disso e entendo a maldade que ele fez comigo”, desabafa.
Ao EM, a vítima afirmou que decidiu denunciar os crimes depois que se encontrou com outra vítima.
"Na época, eu busquei ajuda porque descobri que havia outra jovem que também estava sofrendo abuso. Eu sentia obrigação de fazer o que ele estava me mandando. A gente começou a entender que não era normal, nós procuramos uma liderança da igreja, mas ele contou para o pastor, porque a gente era ensinado a levar tudo para ele", afirma.
Ela afirma que, com o apoio da família, contou para o seu marido e, então, procurou a polícia. No entanto, desde então, tem sido perseguida por alguns fiéis da igreja e pelo próprio pastor, que tem tentado desacreditar sua palavra.
“O meu relato de vítima, as pessoas estão me julgando, dizendo que eu estava gostando, como se eu fosse culpada. Querendo ou não, a gente é muito desacreditada. Quando eu casei, eu não contei que sofri esses abusos, eu queria me ver livre de lá. Achava que, quando eu me casasse, isso não iria acontecer mais. Para mim, foi muito difícil chegar aqui até denunciar, antes eu contei com ele que sofri o abuso”, enfatiza.
Estado de minas