Mesmo com a fama de temperamentais e agressivos, os cães da raça pinscher estão entre os favoritos dos brasileiros, segundo pesquisa de 2025
Pequenos e cheios de personalidade, os pinschers, que medem cerca de 30 centímetros e podem pesar até 5kg, são conhecidos por serem ativos e um pouco temperamentais. De acordo com o levantamento PetCenso 2025, realizado pela Petlove com dados de mais de 1,8 milhão de pets cadastrados na plataforma, o pinscher está em sétimo lugar no ranking de raças de cachorro mais populares do Brasil, representando 3% dos cães registrados.
Por serem compactos, são muito comuns em lares com pouco espaço. Tutoras de Ísis, de 8 anos, as irmãs Ana Paula Moreira Silva, 30, e Jordana Moreira Silva, 22, afirmam que o tamanho é uma das qualidades importantes do pet. "Sempre gostei da raça, são cães pequenos, educados, fazem pouca sujeira e são ótimos para ficar dentro de casa", destaca Ana Paula, analista sênior de relações institucionais e governamentais.
Existe uma crença de que o pinscher é, naturalmente, uma raça mais agressiva, no entanto, o médico veterinário Flávio da Silva Nunes garante que é apenas um mito. "A reputação de 'agressividade' que frequentemente acompanha o pinscher está muito mais ligada a fatores genéticos específicos para um temperamento mais ativo e alerta, somados a uma socialização inadequada e à falta de manejo comportamental por parte dos tutores", explica.
Ana Paula conta que Ísis é sensível, mas é um "amor" com as pessoas com quem convive e, como foi criada em um ambiente tranquilo e sem estímulos negativos, ficou "muito tranquila e educada". O especialista em pets Flávio da Silva Nunes concorda que as reações agressivas típicas da raça costumam ser reflexos da falta de socialização dos filhotes e por comportamentos indesejados que foram reforçados pelos tutores, mesmo que de forma inconsciente, como quando tentam acalmar o cão com atenção ou colo.
"Eles podem desenvolver medos e frustrações que se manifestam como latidos excessivos, reatividade e, em alguns casos, mordidas", alerta o veterinário. "A genética lhes confere uma predisposição para serem bons cães de alarme, mas o comportamento agressivo é quase sempre uma falha de manejo e educação, não uma característica inata da raça."
A esteticista Caroline Melo, 35, cuida dos pinschers Tobi e Tuthy, de 14 e 10 anos, respectivamente. A tutora afirma que o macho era manso no início, mas ficou reativo quando levou uma mordida de outro cachorro e Tuthy chegou. Essa mudança no comportamento do animal reforça a necessidade de socialização contínua. "A socialização deve começar desde filhote, expondo o cão de forma positiva e gradual a diferentes pessoas, animais, ambientes, sons e cheiros. Isso ajuda a construir confiança e a reduzir medos", diz Flávio da Silva Nunes.
O médico veterinário acrescenta que o treinamento deve ser baseado em reforço positivo, com petiscos, brinquedos e elogios para recompensar comportamentos desejados. "Nunca use punição, pois isso pode aumentar o medo e a agressividade", destaca. A veterinária Bárbara Lopes acrescenta que as correções não podem ser com gritos, e o certo é ignorar o animal ou chamar a atenção com voz firme e levemente mais alta que o tom normal, pois "se gritar, o cachorro pode responder latindo mais".
Rotina do pinscher
De acordo com Caroline, Tobi e Tuthy ficam mais agitados quando têm pessoas que não fazem parte da rotina deles. Ana Paula diz que Ísis também não gosta de visitas nem de crianças. Segundo a veterinária Bárbara Lopes, essa mudança no temperamento dos pets é causada pelo instinto de vigilância, personalidade territorialista e, principalmente, pela necessidade que o cãozinho de origem alemã tem de seguir uma rotina estruturada de sono, passeio, alimentação e comportamento com horários positivos.
Bárbara salienta que os pinschers precisam passear de duas a três vezes por dia para gastarem a energia que eles acumulam. "Os cães dessa raça precisam bastante de estímulo físico e mental diário, porque eles têm muita energia. Precisam de caminhadas, brincadeiras e de interação constante com o tutor, pois o sedentarismo pode gerar problemas de comportamento, agitação, agressividade e latidos excessivos", ressalta.
Quando os pinschers têm a própria necessidade atendida, mostram-se extremamente afetuosos e apegados aos tutores. De acordo com Ana Paula, Ísis ama passear e gosta de tomar Sol, então precisa de contato com a área externa. Já Tobi e Tuthy são bem adaptados ao apartamento e gostam de ficar na cama e na coberta. "São ótimas companhias porque são carinhosos e são muito alertas para o caso de ter algo errado", elogia Caroline.
Mesmo que seja uma relação mais complexa, os especialistas dizem que os pinschers podem conviver com crianças pequenas, desde que haja supervisão e educação tanto do cachorro quanto das crianças. "São cães pequenos e, se não forem bem socializados e treinados, podem se sentir ameaçados por interações desajeitadas ou barulhentas de crianças", salienta Flávio. Por isso, além de supervisão constante, são necessários treinamento, para que o cão se sinta seguro, e educação das crianças sobre como interagir de forma respeitosa e gentil com o animal.
Além de check-ups veterinários regulares, vacinação em dia e desparasitação periódica, a raça necessita de cuidados especiais em relação à saúde. Bárbara alerta que é muito comum que pinschers sofram com problemas articulares, como luxação de patela, acumulem muito tártaro, o que aumenta a necessidade de escovação regular e limpeza periodontal com veterinário. "Quando idosos, eles têm a tendência de ter doença cardíaca e, por serem pequenos, são mais sensíveis ao frio", acrescenta a veterinária.
Correio Braziliense