Presidente norte-americano confirma que tarifas entram em vigor em 1º de agosto e celebra acordo bilionário com a União Europeia, que fixa taxa de 15% sobre produtos e prevê investimentos recordes nos EUA
Em reunião realizada neste domingo (27/7) com a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyendurante, na Escócia, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, reafirmou a decisão de não adiar novamente a data para início das tarifas anunciadas, que passam a vigorar em 1º de agosto.
Pela manhã, o secretário do Comércio, Howard Lutnick, reforçou a posição em entrevista à Fox News, afirmando que não haverá "prorrogações nem mais períodos de carência". A partir do primeiro dia de agosto, as tarifas serão aplicadas integralmente.
Após a reunião, Trump deixou claro que continua aberto a negociações com grandes economias, inclusive após a entrada em vigor das taxas, mas sem flexibilizar o prazo.
Na última sexta-feira (25), um grupo de senadores brasileiros viajou para Washington com o objetivo de negociar o “tarifaço do Trump”. Enquanto isso, o setor produtivo inicia conversas com o governo federal para definir medidas paliativas que possam atenuar possíveis impactos, caso a tarifa de 50% prevaleça.
Acerto com a União Europeia: tarifa de 15% e pacto bilionário
O presidente dos Estados Unidos anunciou ainda que fechou um acordo com a União Europeia, que passará a cobrar 15% de tarifas sobre as exportações feitas pelo bloco europeu, e não mais 30% como havia anunciado.
O “Tarifaço do Trump” inclui tarifas específicas por país: 50% sobre o Brasil; 30% sobre o México; 35% sobre o Canadá, e 25% sobre Japão e Coreia do Sul. A maioria das demais nações deve enfrentar a tarifa base de 10%.
Além das alíquotas, o pacto prevê a compra de US$ 750 bilhões em energia pelos europeus e um investimento adicional de US$ 600 bilhões na economia norte-americana, número definido por Trump como “o maior acordo já feito” entre as partes.
Contudo, setores específicos como aço e alumínio (com tarifas iguais às já impostas de 50%), automóveis, agricultura e farmacêuticos podem seguir com regras diferenciadas ou isenções limitadas. Trump destacou manter irreversível as tarifas de 50% no aço e alumínio: “se eu fizer para um, teria que fazer para todos”.
Cronologia do prazo
Originalmente previstas para abril de 2025, as tarifas foram adiadas inicialmente para 9 de julho, e depois estendidas até 1º de agosto. O secretário Lutnick reforçou que desta vez o prazo é "duro", sem margem para novos adiamentos.
Apesar da rigidez formal do prazo, o representante do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, afirmou que acordos de qualidade são mais importantes que cumprir a data exata, sinalizando alguma flexibilidade nos bastidores.
A União Europeia vinha se preparando para adotar medidas retaliatórias caso não fosse firmado um acordo até 1º de agosto, incluindo a possibilidade de impor tarifas de até 30% sobre produtos americanos avaliados em cerca de US$ 109–117 bilhões.
Parlamentares brasileiros viajam para negociar tarifa
A comitiva de senadores da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE) inicia, na próxima segunda-feira (28/7), uma série de compromissos na tentativa de reverter as tarifas de 50% impostas pelo governo dos Estados Unidos a produtos brasileiros como aço e alumínio. Oito parlamentares embarcaram na última sexta-feira (25) para Washington.
Conforme as diretrizes acordadas com o Itamaraty, a missão terá caráter exclusivamente institucional, voltado ao diálogo e ao fortalecimento das relações bilaterais, sem envolvimento direto em negociações formais com a Casa Branca. A expectativa dos senadores é realizar uma "interlocução sobre as relações econômicas bilaterais com os EUA”.
A comitiva foi liderada pelo senador Nelsinho Trad (PSD-MS), presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado. Dos oito senadores que integram a comissão temporária criada para dialogar sobre as tarifas, quatro ocupam vagas titulares no grupo.
Medidas Paliativas
O setor produtivo iniciou conversas com o governo federal brasileiro para definir medidas paliativas que possam atenuar os impactos da tarifa de 50% imposta pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros, prevista para entrar em vigor em 1º de agosto. A iniciativa busca proteger a competitividade das exportações nacionais e minimizar prejuízos para a indústria, especialmente nos segmentos mais afetados pela medida.
O presidente da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), Flávio Roscoe, afirmou que, neste momento, a alternativa mais realista é concentrar esforços na tentativa de postergar as tarifas.
Ele defendeu a aplicação de medidas como antidumping, que são adotadas por um país para proteger sua indústria nacional contra práticas comerciais desleais, previstas pela Organização Mundial do Comércio (OMC).
"Falei e destaquei a relevância da gente proteger o mercado brasileiro da invasão de produtos importados, que está ocorrendo em função da guerra comercial e internacional e da implementação de medidas previstas na OMC, como antidumping, e como avaliação também do fluxo de importações, para que haja ali uma proteção do mercado local", afirmou.
Um estudo da Fiemg, divulgado na última semana, apontou que as tarifas podem ter um custo de até R$ 175 bilhões ao Brasil. Mesmo diante do cenário preocupante, Roscoe definiu a reunião como produtiva. "O vice-presidente deixou de maneira muito clara que está atuando de maneira contundente junto ao governo americano, mas de maneira discreta."
Correio Braziliense