Dificuldades para o cumprimento da meta fiscal, alerta para alta da dívida pública e os desafios do governo diante de um cenário político instável são os obstáculos principais
Com a proximidade das eleições de 2026, o cenário econômico brasileiro é marcado por incertezas, tensões entre o Executivo e o Congresso e os limites do atual arcabouço fiscal. O economista e planejador financeiro José Faria Junior alertou ao portal LeoDias que, para atingir a meta de déficit zero prevista no novo regime fiscal, o governo precisaria contingenciar cerca de R$ 78 bilhões.
Segundo relatório da Instituição Fiscal Independente (IFI), seria inviável contingenciar esse montante, pois comprometeria o funcionamento da máquina pública. “Deixaria o nível da despesa discricionária abaixo do mínimo necessário para o funcionamento da máquina pública”, afirmou o especialista.
Entre as alternativas que estão na mesa estão o aumento do IOF, considerado legal pelo STF; e a chamada tributação “BBB” (Bets, Bancos e Bilionários), que poderia melhorar a arrecadação, mas depende de aprovação legislativa. Porém, em ano eleitoral, há pressão histórica por aumento de gastos. Diante disso, José Faria avalia que o governo deve mirar o piso da meta, ou seja, manter o déficit zero e buscar receitas extraordinárias, como dividendos de estatais e leilões de petróleo.
Apesar de o governo estar formalmente cumprindo o arcabouço, que foi ajustado em 2024, o resultado primário é considerado insuficiente para frear o avanço da dívida, como apontou: “O arcabouço nasceu deficiente e foi enfraquecido ao longo do tempo. Em que pese o governo estar cumprindo a meta, o resultado primário obtido é incompatível para impedir o aumento do endividamento”, explicou Faria. O especialista utilizou uma fórmula econômica básica para ilustrar a gravidade do problema: com juros reais em 7%, PIB real em torno de 2% e dívida bruta/PIB em 78%, o país precisaria de um superávit primário de cerca de 3,9% para estabilizar a dívida; bem acima da meta de zero definida pelo governo. “É como aferir a temperatura do corpo humano: o termômetro indica temperatura acima de 38 graus e o médico diz que está tudo bem, que a temperatura está normal. Não está!”, referiu ele.
Além das questões internas, há ainda os riscos externos. A imposição de tarifas por parte dos Estados Unidos deve afetar diretamente o superávit comercial, provocar queda no PIB e aumento do desemprego, agravando a dificuldade de cumprir o arcabouço. “Haverá um intervalo de 5 meses, entre agosto e dezembro, para conseguir alguma solução com os EUA ou realocação de parte das exportações originariamente enviadas para os EUA”, disse Faria. Caso não haja acordo, o impacto poderá ser sentido também em 2026. Ele destacou ainda a deterioração das contas externas, com redução do investimento estrangeiro direto, aumento das importações da China e Rússia e alta das remessas para compra de criptomoedas.
Quanto ao ambiente político, o economista avaliou que o Congresso não tomará a iniciativa de uma reforma fiscal e que apenas um novo governo, com mudança no pêndulo político, poderá avançar em medidas mais estruturantes. Para os analistas de mercado, há uma expectativa de que o governo eleito em 2026 adote um ajuste fiscal. “Os mais otimistas acreditam que quem vencer as eleições fará ajustes, conforme dito pela Ministra do Planejamento, Simone Tebet”, apontou Faria.
Mesmo que o governo cumpra o déficit zero em 2026, o efeito sobre a credibilidade fiscal seria limitado. “Cumprir a meta de 2026 é absolutamente insuficiente para ter aumento da nota, logo, muito menos do que o mínimo necessário para reaver o grau de investimento”, concluiu. Ou seja, atualmente, o que mais pesa na avaliação do mercado é a trajetória da dívida bruta, que poderá atingir 125% do PIB em 2035, caso o cenário base da IFI se concretize.
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